Um estudo realizado pelo Ministério Público Federal (MPF) mostra a evolução da transmissão da Covid-19 em municípios com grandes rodovias. Em datas comemorativas, como as festas de fim de ano, a quantidade de contaminados nos municípios por onde passam grandes rodovias foi quatro vezes maior à de infectados nas localidades sem essas estradas, em média, proporcionalmente à população.
A pesquisa foi elaborada pela Secretaria de Perícia, Pesquisa e Análise do MPF (Sppea/MPF), que concluiu que em todos os períodos analisados o total de casos do novo coronavírus e a média de infecções por 100 mil habitantes foram maiores nas localidades interligadas a rodovias federais, com exceção do momento inicial da pandemia.
Os pesquisadores observaram os períodos de tempo das eleições municipais, das festas de fim de ano e do carnaval. “De forma proporcional, em todos esses períodos, a média de infecções a cada 100 mil habitantes apresentou uma variação de 7% a 10% quando comparados os dois grupos de municípios”, explica o texto.
União no combate
Para o procurador da República em São Paulo, Edilson Vitorelli, membro do Gabinete Integrado de Acompanhamento da Epidemia Covid-19, é preciso integrar as ações de combate à pandemia, pois os esforços e estratégias de um local em específico, seja uma cidade ou unidade da federação, não garante um freio ao avanço do vírus em uma situação de colapso de saúde pública.
“Uma integração de atuação é absolutamente fundamental. O que nós estamos vendo hoje é que não adianta um Ente público agir muito bem e resolver os seus problemas se o município vizinho, ou estado vizinho, não resolver os seus problemas. O que nós teremos é o efeito cascata que vai acabar afetando mesmo aqueles entes públicos que atuaram com maior rigor e com maior seriedade”, avalia Edilson.
Dificuldade na prática
Gestores de municípios com estradas grandes sabem a dificuldade de enfrentar o avanço do vírus que vem de outros locais. Dimas Urban, prefeito de Pirassununga (SP), conta que a cidade tem 23 entradas, além de receber o fluxo da Rodovia Anhanguera (SP-330).
“Os municípios à beira dessas rodovias realmente estão sendo muito atingidos pela pandemia. Isso não há dúvida nenhuma. O fato de estar à beira da Anhanguera abre uma porta de entrada muito grande aqui. As barreiras nas entradas das cidades ficam difíceis, porque o fato de medir a temperatura de quem está entrando na cidade é algo muito falho”, pontua.
Dimas também lembra que a entrada da variante P1, de Manaus, no estado paulista, tornou a pandemia ainda mais difícil de ser combatida neste ano de 2021. Mas o município de Pirassununga segue à risca as recomendações para contenção, como testar o maior número de habitantes possível com sintomas da Covid-19.
“Temos uma política de realizar exames do tipo RT-PCR, através da USP, em massa. Toda e qualquer pessoa que tenha sintomas, nós colhemos o exame e ela é isolada em casa. Essa é uma das atitudes que ajudam a gente a tentar controlar a pandemia. Mas, infelizmente, boa parte da população não tem a responsabilidade de ficar em casa”, lamenta o prefeito.
A pesquisa do MPF foi feita a pedido de procuradores que ajuizaram uma ação civil pública pedindo que a União adotasse medidas restritivas de locomoção nas estradas federais do país entre os dias 1º e 4 deste mês, em razão do feriado da Semana Santa.
Fonte: Brasil 61