A descoberta do petróleo no país data de 1939 com a descoberta do poço DNPM-163 no bairro de Lobato em Salvador e em 1950, foi inaugurada a primeira refinaria de petróleo do país em São Francisco do Conde, recôncavo baiano, período em que a cidade ficou conhecida como a capital nacional do petróleo.
Em meio à segunda grande guerra mundial e o período onde o país era governado por militares, passamos a viver o sonho de desenvolvimento e progresso, já que éramos uma sociedade formada basicamente por pescadores, marisqueiros, pequenos agricultores e trabalhadores rurais, muitos atuando nas usinas de cana de açúcar da região, considerada na época o “ouro branco” da economia baiana.
Como o poço de Lobato não apresentava viabilidade econômica, a Petrobras continuou com os seus estudos e logo descobre petróleo nos campos de Candeias e em D. João (São Francisco do Conde). Agora sim, com os poços produzindo muito e os estudos ampliados, viramos a principal referência no país.
Na verdade, fizemos toda essa analogia para chegarmos ao ponto chave desse texto e entender os reflexos dessa indústria para a nossa cidade e região.
O que enxergo como período promissor, principalmente na questão de capacitar a mão de obra local e inseri-la no contexto da indústria, foi justamente no período inicial, quando vários franciscanos tiveram acesso ao mundo do Ouro Negro e mudaram as suas vidas. Os reflexos foram imediatos na região!
Daí em diante, quando passamos a usufruir das riquezas repassadas ao município em forma de royalties, tributos e impostos, fomos invadidos e contaminados pelo sentimento da ganância, individualismo e corrupção exacerbada. A cidade propositalmente é induzida à divisão de interesses e aquilo que poderia significar desenvolvimento, prosperidade e independência, torna-se sinônimo de atraso em todos os aspectos, freio para o desenvolvimento e um fomentador de conflitos. Pouca transparência e grande concentração de receitas nas mãos de poucos!
Basta entender o porquê nós franciscanos não desenvolvemos ao longo de décadas, o sentimento de pertencimento em relação a toda essa riqueza, não lutamos por isso e deixamos que pessoas incapazes, corruptas e inescrupulosas, administrem a nossa principal fonte de riqueza, o que deveria garantir o bem estar e qualidade de vida para todos. Não se apropria do que não conhecemos e essa foi uma das estratégias utilizadas para nos manter alheios a esse poderio econômico.
Vivemos num estado de exclusão gritante e os gestores ao longo dos anos, potencializam isso sem o mínimo de empatia e responsabilidade. O acesso ao bônus do petróleo ficou concentrado nas mãos de poucos munícipes coniventes com os erros cometidos, empresários e políticos importados com um único objetivo: obtenção do ganho fácil. Em mais de 70 anos de atividades petrolíferas no município, esse universo de selecionados ampliou para outros segmentos que não vem ao caso citá-los porque toda a população conhece e sabe do que estou falando. O erro é premiado com muita naturalidade.
Não sabemos, mas estamos no centro de um fenômeno conhecido por estudiosos como a Maldição do Petróleo (Maldição dos Recursos Naturais), que explica o movimento inverso à quantidade de recursos financeiros gerados pelas operações dessa indústria. Explicando melhor: quanto mais rico em recursos naturais, que é o nosso caso, maior a desigualdade social, totalmente inverso à lógica.
A inércia do povo, a falta de coragem e reação, têm proporcionado desmandos violentos e comprometido o futuro de gerações. O sonho de cidade justa e próspera sobrevive nos ideais de alguns franciscanos abnegados.
Por enquanto ficamos por aqui, mas prometemos ampliar esse estudo para toda população.
Saudações conterrâneos!
Francisco de Assis Santana Ferreira (Chico Santana) Engenheiro de Petróleo e Professor