Ainda é muito comum na sociedade brasileira ver as famílias minimizando as dores e sentimentos de uma criança. Um exemplo clássico disso é quando uma criança é questionada porque está chorando por besteira e quando é verbalizado para ela, que ela tem que engolir o choro. As crianças que cresceram na desordem familiar e que foram exigidas a tomar atitudes adultas de forma prematura, crescem sem entender as suas emoções e achando que podem lidar com tudo sozinha, para não atrapalhar ninguém.
Hoje é muito comum vermos muitos adultos achando que precisam dar conta de tudo sozinhos. O indivíduo vive num processo de autocobrança, e dentro desse processo não se permite ser acolhido por ninguém e muitas vezes adoece. De acordo com a psicóloga Bianca Reis: “quando a sua criança interior está ferida é comum o adulto entrar num processo de autocobrança, muito desafiador, adoecedor e sem conseguir impor limites a si mesmo”.
A criança interior nada mais é, que uma parte do nosso inconsciente, onde estão algumas experiências e comportamentos da nossa infância, além das emoções que foram reprimidas. A autocobrança, por sua vez, é a pressão que um indivíduo coloca sobre ele mesmo, na busca de atingir determinadas metas e objetivos de forma perfeita e conforme as expectativas que ele mesmo estabelece.
O adulto que vive nesse processo de autocobrança, não se permite errar, ser acolhido, chorar, fraquejar, quer sempre estar em evidência de uma figura forte, que não precisa de acolhimento ou ajuda de ninguém. Esse adulto transborda a figura de sua criança interior, que na infância precisou ter atitudes e obrigações adultas de maneira prematura, e se desenvolveu acreditando que é sua obrigação organizar a instabilidade do ambiente em que vive.
Ainda segundo a psicóloga Bianca Reis, “muitas vezes, a porta de entrada para uma autocobrança tão exacerbada na fase adulta, começa justamente na infância, quando não é ensinado para a criança de maneira firme, porém afetuosa o que é certo e errado, e sobre suas emoções e as emoções dos outros. Quando a criança não é acolhida, e suas dores e sentimentos além de não serem respeitados, são minimizados”.