Alegria, descontração e muita irreverência. É neste clima que há seis anos moradores da Ilha de Bom Jesus dos Passos, na Baía de Todos os Santos realizam uma caminhada com um nome pra lá de criativo. Caminhágua Alcoológica. Isso mesmo. O nome é uma mistura de caminhada com bebida alcóolica, chamada com muito carinho pelos baianos de água.
O passeio começa bem cedo, os participantes saem de canoa de Bom Jesus, e se agrupam no atracadouro na Ilha dos Frades, bem em frente ao ponto de saída. A emoção começa com o balanço da canoa, mas a turma segue firme até o outro lado. A travessia é deslumbrante, a beleza em volta é inenarrável, quem não conhece vai ficar morrendo de curiosidade, e dar uma passadinha neste pedacinho de mar tão encantador.
As cerca de sessenta pessoas chegaram tranquilas ao atracadouro da Caieira, aqui todos fazem uma reunião antes de partir, para ouvir as explicações do casal Lucinete Reis (Nenete) e Carlos Alberto dos Santos (Carlinhos) organizadores do evento. Para reflexão e de mãos dadas, a turma faz a oração universal (Pai Nosso). Agora cada um confiante em sua fé, a viagem de aproximadamente 8,5 km começa.
O grande barato desta caminhada, é que as bebidas e comida são levadas na padiola (carrinho de quatro rodas usado por feirantes) e em carro de mão, durante o percurso os participantes vão reversando. Tudo que será consumido foi adquirido através de cooperação do pessoal, cada pessoa leva um tipo de alimentação e bebida.
Caminhar por dentro deste paraíso ecológico traz uma paz interior, além de nos levar ao passado. Este pedaço de terra cercado de água abriga vegetação da mata atlântica, variedade de animais e insetos. Como o próprio nome já denuncia, a ilha foi reduto dos Jesuítas no século VII. A religiosidade é marcante no local, as igrejas de Nossa Senhora de Guardalupe e de Nossa Senhora do Loreto revelam que fé nunca faltou por este chão no meio d’água.
Agente continua seguindo viagem, a primeira etapa é por caminho calçado por paralelepípedo, os primeiros 2 km foram fáceis empurrando a nossa comida. A aventura de verdade teve início na estrada de terra. Muita poeira e lama, começaram a prender as rodas da padiola, isso só aumentou a diversão, a cada obstáculo vencido, era comemorado com música.
Como ninguém é de ferro, uma paradinha para reabastecer. Na sobra de várias árvores frutíferas fizemos uma pausa para o lanche, mas comemos apenas o que era nosso. Seguindo viagem, passamos por um trecho de paisagem bem modificado, com plantação de manga, abacaxi e outras plantas trazidas para o local. Homens trabalhando, caminhões e máquinas pesadas também se misturam ao ambiente, mas não vamos parar para explicar isso.
Durante a viagem os participantes se dividem em grupos. No pelotão da frente segue o pessoal com a padiola. Um pouco atrás o pessoal que observa mais a viagem, e é também composto por pessoas mais idosas. O carro de mão segue dando suporte, levando água, suco, e também água que passarinho não bebe. Eu como tinha que observar quase tudo, me dividi entre os grupos para tomar nota.
Estrada escorregadia, poeira, lama, água, sobe e desce ladeiras, árvores, pássaros cantado, lagoas naturais e artificiais. Tudo isso e a gente estava apenas no meio do caminho. A diversão segue viagem, e em outro trecho todos voltam a se reunir. Chegamos à Ladeira das Mulheres, neste ponto somente elas empurram o carrinho com todo peso até vencer a subida. Pensa que isso é sacrifício? Não. É tradição elas fazerem a mesma coisa todos os anos. São pouco mais de 100 metros de pura força e determinação.
Após 3h de passeio andando, chegamos na Ponta de Nossa Senhora, um paraíso, um convite ao descanso. Mas quem disse que alguém aqui está cansado? A andada serviu para recarregar a bateria, e diante da praia, da vista em volta, quem vai ter tempo para ficar parado? Todo mudo vai aproveitar e desfrutar das maravilhas deste lugar, onde somente quem vive aqui pode fazer isso todos os dias.
Final do dia todos se reúnem mais uma vez para voltar pra casa. E você deve estar pensando que a aventura chegou ao fim. A volta foi de lancha. Então imagine contemplar as diversas ilhas da Baía de Todos Os Santos, ver o pôr do sol, Cidades do Recôncavo Baiano, e senti a brisa do mar batendo no rosto, e a transição do dia e a noite bem lentamente aos nossos olhos. Teve quem nem piscasse para não perder um segundo.
19h chegamos a um dos atracadouros de Bom Jesus, ali terminou mais uma aventura, e iniciou o planejamento para a próxima. Então pode fechar a conta e passar a régua.
Fotos e vídeos: Integrantes do passeio